quinta-feira, 20 de novembro de 2008

QUASE NADA


Queria dizer que você é brocha, sem sal, tem verrugas pelo corpo e manias estranhas. Mas não posso. O sexo com você é amor, o prazer, um nirvana e seu corpo é aderente a minha alma.
Mas grito que você é covarde, por expurgar meu nome de sua história como se pudesse apagar cicatrizes.
Covarde de amor, tanto amor, que sente por mim e não me olha nos olhos para dizer que não sabe mentir. Ai que vontade de morrer! Para não ver mais seu desespero esdrúxulo em me tirar do seu coração.
Chove torrencialmente e minha rua alagou. A luz piscou e deve acabar a qualquer momento. Estou com frio e tremo. Mas no fundo da janela, dá para ver o arco íris. Ele tem a cor do nosso amor.
Agente já se beijou sem suspirar? E alguma vez teus olhos olharam em direção oposta aos meus? Doce amor que mantém a tradição de dramas de amores maiores. Por serem maiores, talvez. Eu vou caminhar sem você e sei que seus pés se movem sem mim. Sei também que haverá outras tantas bocas e possíveis novos dramas. E muitos sonhos à frente. Mas do teu lado aprendi a andar sobre o mar. Aprendi que o sabor de tua boca é mais doce que o mel e que nossos sonhos sonhados juntos são realidade. Aprendi que tudo que vivi antes de você foi mero ensaio de como te amar melhor. Aprendi como ser sua sem que seja meu dono.
Que dupla somos nós, melhor que queijo com goiabada. Melhor que sonhar acordada, que rabanada no natal, que viajar de barco, que ouvir cartola.
Você não tocará mais nenhuma nota no seu violão sem lembrar das vezes que tocou para mim. Nem fará mais composições de amor sem que meu nome não esteja nas entrelinhas. Não lerá mais um poema sem lembrar dos meus versos, nem andará pela areia da praia sem olhar as pegadas que não dei do teu lado.
Não existe dor maior que o fim. Mas a do fim que não termina no fim.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

"Gosto mais do mundo quando posso olhar para ele com você". O amor é inebriante, cria funções em nosso corpo e também tira, num clique do coração. Nem tem como explicar, mas para quê?
Amor, essa palavra que dá nausea, prazer, lágrima, risos, tremedeiras, irritações, carencias, medos, segurança, força, meiguice, delirio, tontura, secura, calor...
Amor... que coisa louca...

domingo, 16 de novembro de 2008

SÓ PARA VOCÊ


Tem um som de flauta tocando lá fora. Corro para a janela. Um garoto uniformizado toca sentado no banco da rua. Flauta doce. Não era a surpresa que queria não, mas fico enternecida eu ouvir suas notas. Ele toca bem, suas canções soam belas. Seus dedos são brancos, mãos cumpridas e doces, como a própria flauta. Me remeto aos tempos que te ouvia tocar, com mãos tremulas, de dedos cumpridos e doces, de músicas profundas. Tempos idos que me causam surpresa. Tempos de saudade ou só lembranças que se partiram no meio.
Perco um suspiro no vento, podia ser um soluço. Não permito mais choros de amores que não aconteceram, não decolaram, ficaram pela metade. Desvio de dramas. Escuto só a canção, lembro do teu rosto infantil e o quanto de ternura que me infunde. Isso basta, é suficiente. Lembrar é o que me importa nesse momento.
Deixo escapar um sorriso. Acho que alguém vai leva-lo até você para que entendas o quanto te amo e o quanto o amor pode ser maior que o amor.

sábado, 15 de novembro de 2008

INICO DE CONVERSA


Solidão não é coisa de gênio, nem de miserável, nem de carente. Solidão todo mundo tem um dia, mesmo que rapidinho. Às vezes ela bate e volta, mas algumas vezes ela consegui driblar os anticorpos e se instala.
Meu dente está doendo. Estou me sentindo sozinha demais para caber nesse edredom.
O dia hoje está muito esquisito, chove, faz sol, tem calor de molhar a calcinha e bate um vento frio que dói a garganta. Como eu, ele vai e volta. Como meu coração, ele não sabe o que fazer e vai derrubando tudo a sua volta.
Meu dente dói, minha garganta dói, meus pés doem.
Um médium me disse que dor nas pernas e na coluna é medo de mudança. Também ouvi dizer que arrumar guarda-roupa e objetos é uma forma de arrumar o intimo. Meus pés doem que chegam a tilintar. E estou sem a menor paciência para arrumar alguma coisa.
Já tive coleção de cds, de livros, de discos de vinil, de borrachas, de papeis de carta, de álbum de figurinhas, de chapéus, de chaveiros, de canetas, de lápis... vendi tudo e doei o que sobrou. Confesso que a venda do primeiro cd me fez cair em lágrimas, mas depois tudo foi indo embora com muita facilidade. Numa ação desesperada de necessidade, consegui dar um passo maior dentro de mim. Sempre me apeguei muito a objetos e coisas sem vida, como se falassem comigo e me amassem. São meros objetos inanimados os quais me dedicavam por algum tempo em minha vida.
Para que tanta roupa, louça, adereços? Lindos, belos e passageiros... não me importa mais se amanhã eu tiver que ir morar em outra cidade e refazer meus queridos objetos. Porque os papeis se vão, as roupas se acabam, mas as lembranças não. O diário portátil que carrego no meu cérebro, cabe todas as lembranças e acontecimentos e não permite nem aquela memória seletiva de captar somente as coisas mais intensas. Ta tudo lá! Cheiro, visão, sons, sensações, gostos, sonhos, angustias, amores, raivas...E o melhor, ninguém pode tirar isso de mim.
A porta da solidão, as coleções... os apegos. Tudo tão atrelado a nada, ao vazio que cultivamos. Até a dor de dente que vou curtindo até esquecer que é o dente que dói e não o coração. Dizem que os cegos vêem tudo preto porque vêem mais. Será que eles se sentem solitários ou tudo é uma questão de perspectiva?
Hoje me desfaço facilmente de objetos os quais não nutro mais sentimentos de amor e apego, mas cada vez é mais difícil me separar dos afetos. Esses sim, são aderentes a alma.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

como papel de pão


Amigo é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito... já dizia o nobre amigo Milton nascimento. E o nome “amigo” ficou tão lugar comum quanto a palavra “amor”. Talvez por serem muito próximos e semelhantes, esses sentimentos se perdem na vulgaridade do cotidiano e todo mundo é amigo de infância, mesmo tendo conhecido o “irmão” há poucos minutos.
Assim como o amor, a amizade não precisa necessariamente de anos para se instalar e ser verdadeira, mas com certeza, de um tempinho para se conhecer e fortalecer o próprio sentimento.
Todo mundo é amigo de botequim, que ri, que chora, que joga conversa fora no meio de chopes e batata frita. É amigo quando fala da novela e das maldades da antagonista. É amigo para falar a “última” sobre fulano, é amigo para acompanhar ao show de um grupo famoso, é amigo para encontrar na rua e trocar dois ou três beijinhos no rosto e propor um improvável novo encontro.
Mas e quando a gente fica sem dinheiro? Quando amigos estão do teu lado, não necessariamente para te dar uma grana, mas para te dar uma força e uma idéia de como sair do sufoco? Quantos amigos estão do teu lado quando paira no coração aquela dor de cotovelo de tirar o fôlego e parar o ar? Quantos amigos aturam a sua bebedeira insuportável e ainda fazem aquele chazinho de consolo?
Quais dos seus amigos te defendem mesmo quando você está errado? Quais deles te ligam para te desejar um bom dia e saber se depois de ontem você está bem?
Quantos amigos sabem que quando você está de mal humor com o mundo e doido para ficar sozinho, o que precisa mesmo é de um bom colo e um olhar de “eu estou do teu lado”?
Amigo se reconhece, olhos nos olhos ou mesmo “palavras por palavras” em tempos modernos de internet. A gente se assemelha, mesmo sendo totalmente diferente. Amigo a gente sente pelo cheiro. Mesmo quando é tão egoísta, mesmo quando é tão triste, mesmo quando é tão complexo.
Tem amigo que cola que nem bottom no coração. Amigo de verdade já vem tatuado por dentro.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

PESCOÇO


Às vezes me dá uma raiva ao ver a cobertura maciça da imprensa brasileira sobre a presidência dos EUA. Eu entendo a importância mundial de tal escolha, mas meu mau humor oriundo de uma sexta feira de halloowen ainda não passou. Não quero crivar bandeiras nacionalistas no solo gentil da pátria, até porque sou antropofágica demais para isso, mas é estranho demais virar e ver estampado em todos os jornais as fotos e as propostas do candidatos a presidência de outro país. Acabamos de eleger um prefeito, estou mais preocupada com meu mundinho.
É claro que isso é uma visão tola e pequena, mas muitas vezes é tudo isso que precisamos no momento. Saber o que o prefeito eleito vai efetivamente fazer para melhorar a minha rua é imediato alívio. E se haverá escolas, hospitais, creches e se quando eu sair de casa tenho mais chances de voltar sem levar uma bala perdida. O impulso bárbaro de olhar para o próprio umbigo muitas vezes me deixa muito culpada, mas faz parte do capitalismo instituído, cujo maior representante seja o próprio EUA. Eles ditam, não só o Oscar, mas também a economia mundial.
E no meio de toda a contradição entre a minha visão egocêntrica e a mega extensão econômica do assunto, sobre tudo relativo se a crise mundial vai me afetar diretamente, uma situação em especial me comoveu. Quando soube oficialmente, na madrugada do dia 05 de novembro, que o candidato Barak Obama foi o vencedor na super divulgada disputa presidencial dos EUA, não pensei se ele era americano, brasileiro ou qualquer pormenor que deve ser julgado no momento de uma eleição. Tudo ficou insignificante para a importância histórica da vitória deste homem.
Fomos todos acostumados a ver os EUA como um país que não aceita seus negros, nem os latinos e os de origem árabe. Lembro de histórias cruéis e preconceituosas do passado e do presente. Os considerados minorias, foram colocados a margem da sociedade, humilhados com separações e se tornaram cidadãos em eterna rebelião diante de uma sociedade injusta. Porém, tudo isso foi amplamente divulgado pelo cinema norte-americano, mas mostra o que está diante de nosso umbigo também. Afinal, nós brasileiros convictos, somos uma mistura inter-racial, que muitas vezes renegamos nossa cor e descendência, com preconceitos baratos e incoerentes.
Olhei pela tv nos olhos de um homem relativamente jovem, mulato, com um enorme carisma e com o destino marcado para ser um herói, mesmo que faça o pior governo que já se tem noticia. Com mãe branca, pai negro e africano, padrasto indiano e coberto de preconceitos ao longo de sua vida, Obama tem o nome semelhante ao maior inimigo americano, Osama. Um trocadilho de palavras e um deboche a cultura moralista e hipócrita que nos acostumamos a aceitar como ideal e que criaram ídolos como Luther King e Malcom X.
No meio de uma lágrima de emoção, lembrei também da vitória de Lula. Um barbudo com
diploma de segundo grau debaixo do braço, adquirido por um supletivo e que tinha uma verve inebriante, insistiu e acreditou tanto que chegou ao poder enaltecido pelo povo que o elegeu. Foi nossa “Queda da Bastilha”. O povo, enfim, no poder. E como a famosa revolução francesa, apenas os nomes foram alterados e muito do antigo permaneceu. Já não importa mais se o sonho de um governo perfeito ficou apenas no sonho. O símbolo de um homem comum, que não sabe sequer falar a língua dos yankes e ainda assim ascendeu é nobre.
Todo homem precisa de esperança para continuar seguindo. A esperança depositada em Lula foi de um homem que possa entender a língua dos plebeus. A de Osama é que não exista mais distinção de raça, religião ou mesmo sexo para se qualificar uma pessoa. No reino capitalista, egoísta, soberbo, supremo, somos todos frágeis, solitários, inseguros e substancialmente prejudicados pelo nosso próprio preconceito e mediocridade. Alguns ídolos morreram de overdose, ou foram assassinados ou simplesmente caíram no poço da esquecimento ao se tornarem pessoas comuns.
Como foram os ídolos de outrora que morreram de overdose ou foram assassinados ou simplesmente viraram pessoas como todas as outras desprovidas de superioridade, o mundo precisa de alguém que traga esperança, que crie códigos de compreensão, que tenham vínculos com a necessidade mais básica.
A vitória de Obama não foi só de um país, mas da humanidade.