segunda-feira, 15 de junho de 2009

SILÊNCIO


Eu recebi um soco no estomago que me fez sangrar. Meus dentes, agora vermelhos, rangem. Acho que meu cérebro parou, só sinto um vazio profundo e ocre. Nem tenho vontade de chorar, a dor já está inserida na veia, correndo feito veneno.
A rotina, o mesmo, o igual do ruim de sempre, arde demais...
Como posso odiar minha mãe? Ouço lindos relatos sobre maternidade e do quão as mães sabem ser sábias em suas limitações. Mas para todas as distancias, há o amor.
Em mim não há ou talvez ele seja muito pouco, aquele amor tênue pelos seres humanos e cômodo pela proximidade. Mas de verdade, sem firulas, tanto faz se ela sorri ou se debulha em lágrimas, se sente prazer ou amargor. A indiferença é pior que o ódio, porque ela reduz ao nada qualquer sentimento. E eu não sinto nada e viro a página para olhar meu caminho.
Tranco a porta e as paredes estão frias. Tem cheiro de umidade no quarto mas nem sinto. Estou permanentemente gripada, para ter desculpas. Gosto de volume baixo neste momento, para não acordar meus ex amigos imaginários. Passo horas olhando o teto, relembrando ações e palavras de meus sete anos e de como isso ainda afeta o meu fígado.
Demora a passar... procuro nos arquivos, outras dores, menos causticas. Quero o canivete do fundo da gaveta para cortar essa acidez. Serve copo d´água.

SEGMENTOS


Feche os olhos. Teu peito grudado ao meu domina o ar. O meu ar. Tem o controle agora e não vejo saída pelas próximas décadas. Nem precisa me segurar, minhas pernas estão tremulas mas não caio. Faça o que quiser, não apresento objeção.
Ouço sua voz e preciso ouvi-la um pouco mais. Em silêncio, sua voz.
Abra os olhos agora, estou aqui. Estatelada e nua, como quer.
Para que explicar de onde vem o amor?

SALMORRA




As dores imensuráveis, todas acopladas ao corpo de cada um.
Vejo as suas, já tatuadas e ainda ácidas. Não vão passar. A borracha borra cada gota de tinta de sangue, exposta em vida. Não há saídas e nem retornos. Estão todas lá, em detalhes, martelando seu estomago, que tem um bolo incoveniente e não expurgado.
Cada um tem sua cruz, todas pesadas e incomodas.
Coloca a sua no canto do sofá e aceite uma cerveja. Tem dor e amor em todos os cantos da vida e agora eu quero te dar colo.

terça-feira, 9 de junho de 2009

SEM COMBATE AO SILÊNCIO





Te amo exclusivamente da forma que sei amar. Inteira. Sem manequeismos ou farsas. Para quem? Somos intensos, absolutos. Somos um par perfeito as avessas, fora das expectativas, formas, estrofes. Sem rótulos de estigmas ou fardos. Alem do sexo e dos dogmas. Amigos definidos, delineados, amadores, divertidos. Inteiros. No maior amor de amigo que se pode iniciar uma historia: Sem ter que provar nada a ninguém.
Admiro suas crises e suas atitudes, acho graça de sua imaturidade. E seus olhos sérios e reprovadores são incrivelmente sedutores. Gosto de seu sorriso de moleque, sua sensibilidade marejada e a sua capacidade de mudar de reflexo. E de opiniões, firmes opiniões devassadas.
Você se parece comigo, até quando não se parece com ninguém.
Sou dominada por um instante, de uma subita vontade de ter você do meu lado nas mais singelas passagens da vida.
É um homem de atitude, criança de brincar, sujeito impar no meu coração.
Amigo de todas as horas e das horas que não se tem amigo nenhum. Mas lá está você defronte, sinuoso e austero, pronto para ir além, como sempre foi.
Amigo de bate estaca, funk, samba, ziriguidum, bebidas, atalhos, gritos, impulsos, paixões, frio e calor. Complexo, igual, lunático, esporrento, dificil, poeta.
Quanto tempo te conheço mesmo?
Te amo exclusivamente... Porque ninguém consegue ser para mim o que você é.
Para sempre.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

CHAMEGO






“_Olhos lindos que você tem.” Mas só posso pensar, falar apenas o trivial. Me policio para não deflagrar o que sinto diante de você. Mas minhas mãos tremem e derrubo bebida em meu vestido.
Teimo em não te monitorar, mas meus olhos não obedecem. Uma espécie de hipnose que seu jeito tímido é capaz de fazer com o meu jeito altivo.
(Na esquina, teu pescoço. Só eu me apaixono por pescoços... salivo com a imagem de minha boca mordiscando teu pescoço...)
Silêncio. Olho para o lado, preciso mudar de assunto.
Estranho eu ainda ter seu perfume entre meus dedos, mas não me lembrar do gosto de sua boca.
“_Pare de olhar para mim e me beija!”
“_Me abrace logo porque vou sufocar”
“_Quero você dentro de mim!”.
Todas em todas as tolices que me fazem corar e falo com você assuntos triviais. Faço força para disfarçar o meu ciúme quando você acaricia uma outra mulher.
Não sei explicar para meus instintos que não temos nenhum compromisso, porque eu não paro de pensar em você e no quanto você é essencial em minha vida, como se você não tivesse apenas surgido, mas sempre fizesse parte de mim.
Onde está o teu mapa? Cadê o seu tradutor? Será que existe cursos para desvendar seus passos?
Meu menino carente, com cara de colo... no fundo, quem quer teu colo sou eu.

sábado, 6 de junho de 2009

SUFOCAMENTE DISTANTE




Gosto de guardar caquinhos de sentimentos e pedaços de qualquer coisa que agrupem memórias. Mesmo que nos caquinhos estejam pedaços já mortos, de algo que não se quer ou não se quis ou já foi e não pode voltar mais.
A dor dos cacos sempre resta no sangue da ponta, aquele sangue que manchou o tecido branco da cortina.
Nem dá para tirar manchas. Tudo se guarda em algum lugar.
Gosto de murmurar tolices e reclamar de tudo o que é quase nada. Acordo os passantes. Fica grotesco e disforme, agridoce e contagiante.

É, eu gosto de coisas distintas.

Quem sabe eu acorde com o refrão tosto e firme do tédio?
Tédio... esse dogma formatado pelo pânico de ficar sozinho... Um brinde a solidão! Alias, brindes: um para mim mesmo e outro para o vazio. Dois brindes e mais nada além do tédio. O escuro, o breu, o silêncio, o medo, o tédio.
O que são essas coisas além de nosso pensamento restrito?
A liberdade não contém amarras e nem adjetivos. Ela apenas vai e flui e se permite.
Com cacos quebrados, rabugices pré-escritas, silêncios e ojerizas, só a liberdade se permite rir de tolices.
Me diz o que é o sufoco que te mostro alguém para te seguir...
Xiiii... o silêncio quer dominar.